quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Relato Minha Ufes, Minha Casa


O “Minha UFES, Minha Casa” é um movimento que luta por um novo projeto de universidade pública, verdadeiramente popular e de qualidade. Para tal, cremos ser preciso que os filhos dos trabalhadores e os próprios trabalhadores possam ingressar permanecer e ter acesso a todos os espaços e instâncias da universidade. Neste cenário, o movimento retorna à pauta histórica da moradia estudantil por considerar ser esta um fator de fundamental relevância na democratização plena do acesso ao ensino superior. A moradia estudantil na UFES é uma reivindicação antiga, que inclusive por diversas vezes foi utilizada por candidatos à reitoria com o fim único de eleger-se.

No dia 1 de agosto de 2012 surge o “Minha UFES, Minha Casa”. Um grupo de estudantes componentes do Comando Local de Greve Estudantil decide acampar no campus de Goiabeiras, em Vitória, em protesto contra a falta de moradia estudantil e para fazer pressão em prol da execução imediata do projeto de moradia que existe desde 2010, ano do último movimento por moradia organizado na UFES. O local escolhido para montar acampamento foi o gramado da portaria norte da UFES, bem em frente à Av. Fernando Ferrari. Neste espaço, com o apoio do SINTUFES, principal apoiador do movimento, foram montadas, além das barracas, uma tenda que era local de encontro e reunião de estudantes e técnico-administrativos. Neste mesmo local, várias atividades foram desenvolvidas, como grupos de debate, cinema e oficinas. Mas, pelas dificuldades inerentes ao próprio local, como vento excessivo que quebrava barracas, falta de banheiro e água nas proximidades, exposição à chuva, dentre outros, o acampamento, no seu 36° dia, mudou-se para o vão externo da Biblioteca Central.

Uma estrutura de barracas, sala e cozinha foi montada e as atividades continuaram a ser desenvolvidas. Apresentação de filmes, debates e uma aula-debate com o Prof. Dr. Paulo Scarim, do Departamento de Geografia, que dividiu com os presentes sua experiência de luta por moradia estudantil na Universidade Estadual Paulista (UNESP). Após duas semanas de ocupação do vão da biblioteca, às 14:20h do dia 16 de setembro de 2012, alegando risco iminente ao patrimônio da Universidade e acervo da Biblioteca Central, uma reintegração de posse do vão da biblioteca foi executado, inclusive com a presença arbitrária da polícia militar. Sem qualquer resistência à ordem judicial, o grupo desmontou o acampamento e retirou-se do local.

Na terça-feira, dia 18 de setembro de 2012, o grupo decidiu por mudar mais uma vez. O local escolhido foi um espaço do anexo do CCHN (Centro de Ciências Humanas e Naturais). A ocupação do local foi acompanhada pelas guardas federal e patrimonial atuantes na universidade e todo o possível foi feito para que o acampamento não atrapalhasse o fluxo das pessoas nem o funcionamento normal dos setores próximos. Deve-se também destacar que todo o processo de ocupação ocorreu sob o protesto do Sr. Aníval Luis dos Santos, chefe de segurança da UFES e do Prof. Dr. Júlio Bentivoglio, vice-diretor do CCHN.

 Na noite do mesmo dia, às 23:30 h, quando o campus estava fechado e ninguém mais além dos ocupantes estavam presentes, o Sr. Aníval abordou o grupo acompanhado de três guardas patrimoniais afirmando que tinha um mandado de reintegração de posse e que este era urgente. Questionado sobre onde estava o documento, o mesmo afirma que não há a necessidade, pois ele próprio era o mandado. Foi então solicitado que se esperasse ligar para as representações da reitoria em diálogo com o movimento, mas antes que fosse possível realizar a ligação, o Sr. Aníval chamou, com um assovio e um aceno, um grupo de mais de vinte homens com o uniforme da PLANTÃO, que é a empresa terceirizada responsável pela segurança patrimonial da universidade. Munidos de cacetetes, tacos de baseboll, armas de fogo, faca, canivetes e fogos de artifício, os seguranças rasgaram as barracas e, usando cassetete e tacos, quebraram todas as barracas com todos os pertences dos estudantes ocupantes (como computador, celular, roupas, livros, documentos pessoais, dinheiro…). À base de chutes, socos, armas encostadas na cabeça, cacetadas e violência verbal, os estudantes foram expulsos do campus, numa clara tentativa de minar o movimento a qualquer preço.

Interessante destacar que durante toda a ação criminosa o Sr. Aníval Luis dos Santos esteve presente, acompanhando passivamente toda a violência que ocorria na universidade. Dois dias após a expulsão doa alunos ocupantes, um professor denunciou ao movimento que um grupo de docentes e funcionários da ultra-direita da universidade está se articulando para conseguir, ou se necessário criar, provas para criminalizar os integrantes do movimento.

O movimento “MINHA UFES, MINHA CASA” entende que ação criminosa e facista do Reitor, Prof. Dr. Reinaldo Centoducati, é a coadunação e a perpetuação do modelo falido, perverso e excludente de ensino superior feito no Brasil. Modelo que é, em sua essência, reflexo da sociedade brasileira e capixaba. Este movimento se propõe a posiciona-se diante da pauta moradia estudantil com uma postura firme e afirma, pelo fervor da vontade de nossos espíritos ser o último movimento por moradia desta universidade. Quanto à organização do grupo, o movimento se pauta nos ideais revolucionários libertários em suas metodologias e planos de ação, sempre se pautando no diálogo e na democracia da voz. Já houve avanços nesses 53 dias de ocupação no campo da negociação. Sucessivas reuniões com a vice-reitora, Profª. Drª. Maria Aparecida Barreto, com o chefe do gabinete do Reitor, Sr. Renato Schwab e com a Pró-Reitora de Gestão de Pessoas e Assistência Estudantil, Srª Lúcia Cassati resultaram em avanços na discussão da pauta no sentido de se definir e avaliar cada possibilidade para solucionar o problema da falta de moradia estudantil. Alguns documentos sobre a estrutura de prédios da universidade estão sendo liberados. No momento as discussões continuam, mas os avanços reais na pauta ainda estão muito aquém do desejado. O movimento lamenta a falta de vontade política e o completo desinteresse de nossos gestores para com relação às demandas dos estudantes.

A morosidade e a má vontade por parte da reitoria durante o processo de negociação foram o único responsável por toda a violência sofrida pelos estudantes violentados. No momento as atividades do acampamento estão se concentrando no trabalho de base, com o levantamento da discussão e o convite dos alunos que necessitam de moradia venham nos apoiar e efetivamente morar conosco, em nossa residência.

O movimento “MINHA UFES, MINHA CASA” entende o desafio que está por vir. Mas reitera sua obstinação de cumprir o que colocou como meta principal que é ser o último movimento por moradia de nossa tão querida universidade.
Movimento Minha Ufes, Minha Casa
Vitória, 22 de setembro de 2012


Atualização do Relato em 23 de outubro de 2012.

Após a expulsão violenta do dia 18 de setembro, o Mov. “Minha Ufes, Minha Casa” usou o espaço do SINTUFES como refúgio até 4 de outubro. Tivemos nossa primeira reunião com o reitor em 3 de outubro, após iniciarmos um ato de “remontagem do acampamento” no qual faríamos cabanas de lonas no gramado da reitoria, entretanto não chegamos a construir as mesmas porque a srª Lucia Cassate disse que se desmontássemos as cabanas teríamos uma reunião com o reitor imediatamente (antes da conversa com a pró-reitora o chefe de segurança Anival Luís dos Santos foi até onde montávamos as cabanas e disse que ele iria tirar ali e que estava cansado dos meios jurídicos, claramente nos ameaçando), desta primeira conversa o reitor disse que a universidade não tinha dinheiro pra iniciar a construção em 2013, mas que já tinha enviado o pedido da verba, perguntamos sobre a possibilidade de uma moradia provisória em alguns dos prédios desocupados, ele pediu para que fizéssemos uma proposta formal (fizemos mas até o momento não obtivemos a resposta) e marcamos algumas reuniões posteriores, na mesma noite no Conselho de

Entidade Base foi decidido que o antigo sebo (localizado ao lado do anexo do r.u) seria reaberto e que seria um espaço de vivencia universitária e também de sede do “MINHA UFES, MINHA CASA”, e que enquanto não conseguíssemos revitalizar o espaço usaríamos o espaço do D.C.E, onde permanecemos até o dia 8 de outubro, quando “nos mudamos” para o antigo sebo (que até então era um depósito de papel higiênico do R.U). Desde então promovemos alguns eventos culturais e tivemos uma boa aceitação do novo espaço de vivencia da UFES.

Até hoje viemos sofrendo inúmeras formas de repressão e perseguições politicas, como no dia 5 de outubro, quando um morador do “MINHA UFES, MINHA CASA” foi acusado por um segurança patrimonial de estar pichando uma parede do IC II e preso junto com dois apoiadores do movimento, apesar de não haver qualquer prova contra o acusado, o carro da mãe de outro morador teve o pneu cortado ao lado do D.C.E e no dia 14 de outubro durante um evento cultural um homem que não quis se identificar acompanhado por cerca de 8 seguranças patrimoniais começou a fotografar os rostos de quem estava no espaço e na ultima segunda (22) a torneira do “quintal” foi arrancada e aterrada. Vale ressaltar que nos três casos de repressão a escala dos vigilantes era a mesma.

 Reiteramos que a ainda não houve resposta da reitoria sobre a proposta protocolada na reitoria pelo movimento desde o dia 9 de outubro e que não desistiremos da luta e convidamos a todos para virem fazer parte do movimento apoiando e morando conosco, seremos o ultimo movimento em busca da construção da Moradia Estudantil!    

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